quinta-feira, 20 de junho de 2013

O DIA EM QUE A MÚSICA MORREU


O último ano da década de 50 estava começando, a década do rock n’ roll, uma época em que os inventores do rock já eram grandes e tinham aberto caminho para o surgimento de novos talentos, mas os grandes estavam sendo sacudidos pela própria fama.

Elvis Presley tinha se alistado para a guerra numa tentativa de melhorar sua imagem, ele era muito rejeitado pela sociedade puritana daquela época. 

Chuck Berry estava sendo processado por levar uma garota menor de idade para fora de seu estado sem autorização. 

Jerry Lee Lewis estava sendo boicotado pois seu casamento com uma prima de 13 anos tinha sido descoberto. 

Little Richard se tornou pregador e não queria mais envolvimento com as farras e a vida desregrada que levara até então.

O espaço estava surgindo para aqueles que eram admiradores e agora já se tornavam discípulos e logo também mestres. Surgiam nomes que se tornariam parte da história do rock alguns anos depois como The Who, Bob Dylan, The Byrds, The Doors, The Beatles e The Rolling Stones, mas em 1959 os nomes que estavam surgindo tinham que se virar do avesso para chegar ao sucesso. Alguns dos que já tinham hits tocando nas rádios estavam na turnê “The Winter Dance Party” que faria um show a cada dia em 24 cidades (23/01 a 15/02) no centro-oeste dos EUA, todos enfurnados dentro de um ônibus, em pleno inverno, sem nenhum dia de intervalo, viajando quase sempre com tempo suficiente só para cumprir os contratos.

Cartaz promocional da Winter Dance Party

Os três mais famosos eram The Big Bopper que tinha Chantilly Lace como seu maior sucesso, também Buddy Holly que foi o mais influente musicalmente, e por último o mais novo, Ritchie Valens que abriu as portas do rock para os músicos latinos.

The Big Bopper - Buddy Holly - Ritchie Valens

Com as condições precárias da turnê o ônibus que transportava os músicos não aguentou o uso excessivo e logo no início estragou o sistema de aquecimento. Não era só uma questão de conforto, alguns começaram a ficar doentes. O baterista de Buddy Holly, Carl Bunch, foi internado com congelamento nos pés, o que aumentou o desgaste, pois Holly e Valens tiveram que assumir o lugar dele e Big Bopper acabou contraindo uma gripe. Buddy Holly também reclamava que não tinha mais roupas limpas e que precisava levá-las a uma lavanderia.

A confusa rota da turnê

O décimo primeiro dia de turnê era pra ser um dia de folga mas os produtores conseguiram o The Surf Ballroomna cidade de Clear Lake, Iowa, completando todos os dias da turnê. Foi então que Holly teve a iniciativa de pedir a Carrol Anderson, o gerente da casa, para procurar e contratar uma viagem fretada de avião para a próxima cidade, Moorhead, no estado de Minesota. Na cidade vizinha de Mason City ele contratou a viagem com a empresa Dwyer Flying Service que cedeu o piloto novato Roger Peterson de 21 anos e um avião modelo Beechcraft Bonanza B35 com capacidade para três passageiros, fabricado 13 anos antes. O preço da viagem era de $36,00 por pessoa. O vocalista da banda Dion and the Belmonts, Dion DiMucci, teria um lugar no vôo mas recusou alegando que 36 dólares era o que seus pais pagavam por um mês de aluguel, então Holly ofereceu os dois lugares restantes para os integrantes de sua banda – Waylon Jennings e Tommy Allsup – quando o engripado Big Bopper soube do avião pediu que Jennings cedesse seu lugar e ele aceitou. Ritchie Valens também quis um lugar para escapar do frio e também porquê nunca tinha voado, mas Allsup só aceitou ceder o lugar se Valens o vencesse no cara ou coroa. Quem testemunhou a cena foi o radialista Bob Hale da KRIB-AM que jogou a moeda um pouco antes dos músicos se dirigirem ao aeroporto – Valens pediu “cara” e ganhou o jogo mas viria a perder tudo. Quando Buddy Holly viu que Jennings não iria junto brincou com ele dizendo – “Bom, espero que esse seu ônibus velho conjele”:

E Jennings retrucou – “E eu espero que seu avião velho caia”:

Essa brincadeira deve ter causado um remorso terrível em Jennings.

O avião que decolou com os músicos era deste modelo

Já era madrugada de 3 de fevereiro de 1959, uma terça-feira, quando o Beechcraft 1947 decolou às 00:55. A bordo o piloto Roger Peterson e os roqueiros Buddy Holly, The Big Bopper e Ritchie Valens. O dono da aeronave, Hubert Dwyer, estava no local observando e viu a decolagem e a luz de cauda descer e sumir vagarosamente, ficou preocupado e foi até a torre. O combinado era que o piloto passasse o plano de vôo por rádio para a torre logo após decolar, mas isto não aconteceu, então tentaram contato, em vão. Duas horas e meia depois o aeroporto Hector na cidade destino de Fargo no estado de Dacota do Norte há 643 Km de distância – provavelmente a cidade do próximo show (Moorhead) não tinha aeroporto – informou não ter qualquer sinal do avião, então Dwyer informou as autoridades sobre seu desaparecimento.

Somente às 9:15 da manhã o próprio Dwyer conseguiu decolar e seguir a rota planejada por Peterson e acabou localizando os destroços em uma plantação de milho há 8 Km do aeroporto. Os peritos verificaram que o avião atingiu o solo a 270 km/h em um ângulo levemente descendente e inclinado para a direita capotando e derrapando por mais 170 metros e parando em uma cerca de arame farpado. Todos tiveram morte instantânea. O piloto estava dentro da cabine, Holly e Valens estavam próximos dos escombros e Bopper foi arremessado além da cerca. O último a falar com os roqueiros foi o gerente do Surf Ballroom que os levou até o aeroporto na cidade vizinha e também foi o primeiro a identificar os corpos.

O acidente

O inquérito concluiu que embora o avião estivesse em perfeito estado e o clima não impedisse o vôo, não houve um alerta sobre as condições climáticas naquele momento, que obrigavam o voo por instrumentos e que o piloto não tinha habilitação para este tipo de voo, também havia um novo tipo de indicador de altitude instalado no avião que o piloto não conhecia o que pode ter feito que ele acreditasse estar subindo quando na verdade estava descendo e daí o rock acabou ganhando seus primeiros mártires, três de uma só vez.

Uma das últimas fotos com os três juntos

The Big Bopper

Big Bopper tinha 28 anos e foi o primeiro a gravar um vídeo de rock em 1958 de sua música Chantilly Lace, coisa vital para um artista hoje em dia.

Buddy Holly

Buddy Holly tinha 22 anos e além de seus três maiores sucessos – That’ll Be the Day, Peggy Sue e Maybe Baby – influenciou o nome de uma das maiores bandas de rock, The Beatles (Os Besouros) foi uma alusão a The Crickets (Os Grilos) a banda de Holly.

Ritchie Valens

Ritchie Valens tinha 17 anos e dois grandes sucessos – Come On, Let’s Go e a balada Donna até que resolveu gravar uma música tradicional mexicana no estilo rock n’ roll que estourou nas paradas apenas três meses antes de sua morte, a música é La Bamba que também influenciou a música Twist and Shout dos Topnotes e que ficou famosa com os Beatles.

A casa de shows Surf Ballroom está lá até hoje, do mesmo jeito que em 1959 e muitos passam por lá a caminho da fazenda onde existe um marco no local da tragédia junto aos restos enferrujados da cerca onde o avião parou.

The Surf  Ballroom atualmente

Há um livro contando a história:
Como Eles Morreram, de Tod Benoit, da editora Record.


Há um filme sobre a vida de Ritchie Valens onde aparece este momento - tem um post sobre isto aqui no blog - La Bamba.

Em 1971 o músico Don McLean gravou a música Americam Pie onde dizia que aquele foi “o dia em que a música morreu” e a partir daí é assim que a tragédia é lembrada, posteriormente Madonna também gravou uma versão desta música, – alguns se referem a esse dia como “o dia em que o rock morreu”, talvez tenha sido Raul Seixas o primeiro a dizer isso – mas aquela plantação de milho congelada e aquelas asas de metal retorcido incendiaram a Fênix do rock n’ roll, que se levantou para mudar tudo o que surgiu a partir daí na música ocidental, e depois para o resto do mundo.

No vídeo Don McLean canta American Pie.



No vídeo Big Bopper


No vídeo La Bamba de Ritchie Valens


No vídeo Buddy Holly





7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. 11:54
    Em 1961, com 13 anos eu detestava essa tal de música DONNA, eu ficava P da vida quando tocava no auto falante, quando anunciava donna com Ritchie Valens começava a gritaria e a choradeira das moças, meninas e até mulheres casadas, aquilo pra mim era um suplício, pura dor de cotovelo, e não era só eu, até homens casados so faltava proibir as esposas de ouvir a música, como se fosse possível, KKKKKKK.
    Para quem não sabe, até os anos 70, era muito comum as bocas de auto falantes nas arvores mais altas, em cidades do interior e suburbios das capitais, principalmente nos coqueiros, hoje chamamos isso de emissoras de rádio comunitárias.

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  3. Linda história e ao mesmo tempo muito triste 😞

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  4. Toda vez que assisto o filme eu acabo em lágrimas... choro e choro sem parar. Snif snif. Snif

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  5. Assistir o filme duas vezes... comovente comecei a pesquisar tudo sobre ele.

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  6. Amei saber mais detalhes sobre a vida e a curta tragetoria desses cantores inclusive o de Ritchie valens..

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  7. Que possamos lembrar deles com amor e desejar luz onde estiverem.

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