O último ano da década de 50 estava
começando, a década do rock n’ roll,
uma época em que os inventores do rock
já eram grandes e tinham aberto caminho para o surgimento de novos talentos,
mas os grandes estavam sendo sacudidos pela própria fama.
Elvis Presley tinha se alistado para a guerra
numa tentativa de melhorar sua imagem, ele era muito rejeitado pela sociedade
puritana daquela época.
Chuck Berry estava sendo processado por levar uma garota menor de idade para fora de seu estado sem autorização.
Jerry Lee Lewis estava sendo boicotado pois seu casamento com uma prima de 13 anos tinha sido descoberto.
Little Richard se tornou pregador e não queria mais envolvimento com as farras e a vida desregrada que levara até então.
Chuck Berry estava sendo processado por levar uma garota menor de idade para fora de seu estado sem autorização.
Jerry Lee Lewis estava sendo boicotado pois seu casamento com uma prima de 13 anos tinha sido descoberto.
Little Richard se tornou pregador e não queria mais envolvimento com as farras e a vida desregrada que levara até então.
O espaço estava surgindo para aqueles que eram
admiradores e agora já se tornavam discípulos e logo também mestres. Surgiam
nomes que se tornariam parte da história do rock
alguns anos depois como The Who, Bob Dylan, The Byrds, The Doors, The Beatles e
The Rolling Stones, mas em 1959 os nomes que estavam surgindo tinham que se
virar do avesso para chegar ao sucesso. Alguns dos que já tinham hits tocando nas rádios estavam na turnê
“The Winter Dance Party” que faria um
show a cada dia em 24 cidades (23/01
a 15/02) no centro-oeste dos EUA, todos enfurnados dentro de um ônibus, em
pleno inverno, sem nenhum dia de intervalo, viajando quase sempre com tempo
suficiente só para cumprir os contratos.
Cartaz promocional da Winter Dance Party |
Os três mais famosos eram The Big Bopper que
tinha Chantilly Lace como seu maior
sucesso, também Buddy Holly que foi o mais influente musicalmente, e por último
o mais novo, Ritchie Valens que abriu as portas do rock para os músicos latinos.
The Big Bopper - Buddy Holly - Ritchie Valens |
Com as condições precárias da turnê o ônibus
que transportava os músicos não aguentou o uso excessivo e logo no início
estragou o sistema de aquecimento. Não era só uma questão de conforto, alguns
começaram a ficar doentes. O baterista de Buddy Holly, Carl Bunch, foi
internado com congelamento nos pés, o que aumentou o desgaste, pois Holly e
Valens tiveram que assumir o lugar dele e Big Bopper acabou contraindo uma
gripe. Buddy Holly também reclamava que não tinha mais roupas limpas e que precisava
levá-las a uma lavanderia.
O décimo primeiro dia de turnê era pra ser um
dia de folga mas os produtores conseguiram o The Surf Ballroom, na cidade de Clear Lake, Iowa, completando todos
os dias da turnê. Foi então que Holly teve a iniciativa de pedir a Carrol
Anderson, o gerente da casa, para procurar e contratar uma viagem fretada de avião
para a próxima cidade, Moorhead, no estado de Minesota. Na cidade vizinha de
Mason City ele contratou a viagem com a empresa Dwyer Flying Service que cedeu o piloto novato Roger Peterson de 21
anos e um avião modelo Beechcraft Bonanza B35 com capacidade para três
passageiros, fabricado 13 anos antes. O preço da viagem era de $36,00 por pessoa.
O vocalista da banda Dion and the Belmonts, Dion DiMucci, teria um lugar no vôo mas recusou alegando que 36 dólares era
o que seus pais pagavam por um mês de aluguel, então Holly ofereceu os dois
lugares restantes para os integrantes de sua banda – Waylon Jennings e Tommy
Allsup – quando o engripado Big Bopper soube do avião pediu que Jennings
cedesse seu lugar e ele aceitou. Ritchie Valens também quis um lugar para
escapar do frio e também porquê nunca tinha voado, mas Allsup só aceitou ceder
o lugar se Valens o vencesse no cara ou coroa. Quem testemunhou a cena foi o
radialista Bob Hale da KRIB-AM que jogou a moeda um pouco antes dos músicos se
dirigirem ao aeroporto – Valens pediu “cara” e ganhou o jogo mas viria a perder
tudo. Quando Buddy Holly viu que Jennings não iria junto brincou com ele
dizendo – “Bom, espero que esse seu ônibus velho conjele”:
E Jennings retrucou – “E eu espero que seu
avião velho caia”:
Essa brincadeira deve ter causado um remorso
terrível em Jennings.
O avião que decolou com os músicos era deste modelo |
Já era madrugada de 3 de fevereiro de 1959, uma terça-feira, quando o Beechcraft 1947
decolou às 00:55. A bordo o piloto Roger Peterson e os roqueiros Buddy Holly,
The Big Bopper e Ritchie Valens. O dono da aeronave, Hubert Dwyer, estava no
local observando e viu a decolagem e a luz de cauda descer e sumir
vagarosamente, ficou preocupado e foi até a torre. O combinado era que o piloto
passasse o plano de vôo por rádio para a torre logo após decolar, mas isto não
aconteceu, então tentaram contato, em vão. Duas horas e meia depois o aeroporto
Hector na cidade destino de Fargo no estado de Dacota do Norte há 643 Km de
distância – provavelmente a cidade do próximo show (Moorhead) não tinha
aeroporto – informou não ter qualquer sinal do avião, então Dwyer informou as
autoridades sobre seu desaparecimento.
Somente às 9:15 da manhã o próprio Dwyer
conseguiu decolar e seguir a rota planejada por Peterson e acabou localizando
os destroços em uma plantação de milho há 8 Km do aeroporto. Os peritos
verificaram que o avião atingiu o solo a 270 km/h em um ângulo levemente
descendente e inclinado para a direita capotando e derrapando por mais 170
metros e parando em uma cerca de arame farpado. Todos tiveram morte
instantânea. O piloto estava dentro da cabine, Holly e Valens estavam próximos
dos escombros e Bopper foi arremessado além da cerca. O último a falar com os
roqueiros foi o gerente do Surf Ballroom que os levou até o aeroporto na cidade
vizinha e também foi o primeiro a identificar os corpos.
O acidente |
O inquérito concluiu que embora o avião
estivesse em perfeito estado e o clima não impedisse o vôo, não houve um alerta
sobre as condições climáticas naquele momento, que obrigavam o voo por
instrumentos e que o piloto não tinha habilitação para este tipo de voo, também
havia um novo tipo de indicador de altitude instalado no avião que o piloto não
conhecia o que pode ter feito que ele acreditasse estar subindo quando na
verdade estava descendo e daí o rock
acabou ganhando seus primeiros mártires, três de uma só vez.
Uma das últimas fotos com os três juntos |
The Big Bopper |
Big Bopper tinha 28 anos e foi o primeiro a
gravar um vídeo de rock em 1958 de
sua música Chantilly Lace, coisa
vital para um artista hoje em dia.
Buddy Holly |
Buddy Holly tinha 22 anos e além de seus três
maiores sucessos – That’ll Be the Day,
Peggy Sue e Maybe Baby – influenciou o nome de uma das maiores bandas de rock, The Beatles (Os Besouros) foi uma alusão a The Crickets (Os Grilos) a banda de Holly.
Ritchie Valens |
Ritchie Valens tinha 17 anos e dois grandes
sucessos – Come On, Let’s Go e a
balada Donna até que resolveu gravar
uma música tradicional mexicana no estilo rock
n’ roll que estourou nas paradas apenas três meses antes de sua morte, a
música é La Bamba que também
influenciou a música Twist and Shout
dos Topnotes e que ficou famosa com
os Beatles.
A casa de shows
Surf Ballroom está lá até hoje, do mesmo jeito que em 1959 e muitos passam
por lá a caminho da fazenda onde existe um marco no local da tragédia junto aos
restos enferrujados da cerca onde o avião parou.
The Surf Ballroom atualmente |
Há um livro contando a história:
Como Eles Morreram, de Tod Benoit, da editora
Record.
Há um filme sobre a vida de Ritchie Valens onde aparece este momento - tem um post sobre isto aqui no blog - La Bamba.
Em 1971 o músico Don McLean gravou a música Americam Pie onde dizia que aquele foi “o dia em que a música morreu” e a partir daí é assim que a tragédia é lembrada, posteriormente Madonna também gravou uma versão desta música, – alguns se referem a esse dia como “o dia em que o rock morreu”, talvez tenha sido Raul Seixas o primeiro a dizer isso – mas aquela plantação de milho congelada e aquelas asas de metal retorcido incendiaram a Fênix do rock n’ roll, que se levantou para mudar tudo o que surgiu a partir daí na música ocidental, e depois para o resto do mundo.
Em 1971 o músico Don McLean gravou a música Americam Pie onde dizia que aquele foi “o dia em que a música morreu” e a partir daí é assim que a tragédia é lembrada, posteriormente Madonna também gravou uma versão desta música, – alguns se referem a esse dia como “o dia em que o rock morreu”, talvez tenha sido Raul Seixas o primeiro a dizer isso – mas aquela plantação de milho congelada e aquelas asas de metal retorcido incendiaram a Fênix do rock n’ roll, que se levantou para mudar tudo o que surgiu a partir daí na música ocidental, e depois para o resto do mundo.
No vídeo Don McLean canta American Pie.
No vídeo Big Bopper
No vídeo La Bamba de Ritchie Valens
No vídeo Buddy Holly
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir11:54
ResponderExcluirEm 1961, com 13 anos eu detestava essa tal de música DONNA, eu ficava P da vida quando tocava no auto falante, quando anunciava donna com Ritchie Valens começava a gritaria e a choradeira das moças, meninas e até mulheres casadas, aquilo pra mim era um suplício, pura dor de cotovelo, e não era só eu, até homens casados so faltava proibir as esposas de ouvir a música, como se fosse possível, KKKKKKK.
Para quem não sabe, até os anos 70, era muito comum as bocas de auto falantes nas arvores mais altas, em cidades do interior e suburbios das capitais, principalmente nos coqueiros, hoje chamamos isso de emissoras de rádio comunitárias.
Linda história e ao mesmo tempo muito triste 😞
ResponderExcluirToda vez que assisto o filme eu acabo em lágrimas... choro e choro sem parar. Snif snif. Snif
ResponderExcluirAssistir o filme duas vezes... comovente comecei a pesquisar tudo sobre ele.
ResponderExcluirAmei saber mais detalhes sobre a vida e a curta tragetoria desses cantores inclusive o de Ritchie valens..
ResponderExcluirQue possamos lembrar deles com amor e desejar luz onde estiverem.
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