Palavra de origem árabe (al‘ud = a madeira) que designa um antigo instrumento de cordas dedilháveis, de origem oriental precursor de vários instrumentos semelhantes ao atual violão.
A origem do nome parece ser mesmo uma corruptela do árabe AL’UD ou AL’OUD. Já outros defendem que a origem é persa (rud = corda), mas esse mesmo instrumento é chamado de Barbat em persa e os mouros que trouxeram o alaúde para a Península Ibérica no século XIV tinham influência árabe e não persa.
O instrumento é um cordofone com a caixa de ressonância sensivelmente abaulada, sem costilhas e em forma de meia pera ou gota (piriforme), e com a pá do cravelhame inclinada, formando ângulo quase reto com o braço. As cravelhas (afinadores) são de madeira como nos instrumentos de orquestra. O braço é geralmente curto. Tardiamente (no Renascimento) alguns modelos passaram a ter outras extensões de braço, neste caso acabaram recebendo outros nomes, como a teorba, o chitarrone e o alaúde-harpa. A escala é normalmente dividida por trastes que dão o temperamento para o instrumento, mas existem também os modelos sem trastes. Na antiguidade os trastes eram feitos com cordinhas ou tripas torcidas enroladas em torno do braço do instrumento. As cordas normalmente são em pares, mas existem instrumentos que usam cordas únicas ou ainda misturando os dois tipos. Ao tocar o instrumento as cordas podem ser palhetadas ou dedilhadas e eram feitas na Antiguidade de tripa torcida seca. Os instrumentos mais antigos tinham de quatro a seis cordas, mas no final do Renascimento chegaram a ter dezenove cordas contando os bordões (cordas graves) colocados paralelos ao braço. As afinações mais clássicas entre as cordas eram principalmente em intervalos de quartas (E A D G C por exemplo) muito parecidas com a afinação dos violões, violas e guitarras atuais.
O músico brasileiro Guilherme Camargo tocando um alaúde tipo teorba |
O tampo costuma ser em madeira de pinho com uma a três bocas (aberturas) em forma de rosáceas, são muito trabalhadas com desenhos geométricos podendo ter várias camadas (degraus ou andares) principalmente nos instrumentos barrocos. O corpo é abaulado e construído com ripas paralelas de madeira.
Nos modelos de alaúde atuais, ainda muito usados principalmente na Espanha, a construção se assemelha bastante ao atual violão, com corpo plano, com costilhas (laterais), cravelhame com pouco ângulo e tarraxas (afinadores) de metal.
Alaúde espanhol moderno |
É difícil determinar com precisão a origem do alaúde, Existem muitos registros de instrumentos semelhantes em diversas partes do mundo antigo inclusive sendo citado nos textos do Antigo Testamento bíblico. Instrumentos similares eram usados no Oriente Médio, na Turquia, na Grécia, em Roma, no Egito e até na China (pipa). Adquiriu as características atuais em torno do século VII nas áreas entre o Oriente Médio e a Ásia Menor. Com a expansão muçulmana o alaúde acabou chegando com os mouros até a Península Ibérica. Com a reconquista da península pelos cristãos o alaúde acabou sendo introduzido no resto da Europa e já no século XIV era conhecido em toda a região.
Uma Pipa tradicional da China, possível ancestral do alaúde |
Um Barbat persa, muito semelhante ao alaúde |
Durante a Idade Média foi um instrumento de acompanhamento dos cantores sendo tocado principalmente com hastes de penas e palhetas de madeira, mas no século XV a técnica começou a mudar e os lutenistas (tocadores de alaúde) passaram a dedilhar as cordas, aumentando as possibilidades de execução e permitindo que o alaúde se tornasse um instrumento solista. Durante os séculos XVI e XVII foi amplamente utilizado em todos os estilos musicais na Europa e Johann S. Bach (séc. XVIII) foi um dos últimos compositores a utilizá-lo em suas obras.
Pintura de Frans Hals - O tocador de alaúde (1626) |
O surgimento de outros instrumentos aperfeiçoados a partir do alaúde como a vihuela, a guitarra barroca e o violão acabou por deixar o alaúde em segundo plano, mas ele nunca sumiu totalmente sendo fabricado e tocado até os dias atuais principalmente nas suas regiões de origem e vem sendo redescoberto no Ocidente principalmente pelo movimento da Música Antiga.
A importância do alaúde na história da música e na evolução dos instrumentos é tão grande que o nome dado aos construtores de instrumentos de corda é até hoje luthier (luteiro em alguns lugares) derivado diretamente do nome árabe antigo.
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