terça-feira, 30 de abril de 2019

DICIONÁRIO MUSICAL - ARS NOVA



Ou Ars Modernorum (Arte Nova, Arte Moderna).

É o nome dado ao segundo período da escola polifônica ocidental, principalmente francesa, no século XIV. Ainda muito influenciada pela Ars Antiqua baseada na Escola de Notre-Dame de Paris.

Foi de grande influência em toda a música ocidental pois a partir dela todo um novo estudo e pensamento musical se originou. Se caracterizou pela busca de novas formas (o moteto, o virelai, o rondó, a balada), pelo emprego de textos de maior qualidade poética, por um ritmo mais flexível e uma escrita mais livre, também colocou a música profana em pé de igualdade com a música sacra em termos de composição. Foi nesta época que o sistema de notação e escrita musical começou a ser estudado e modificado para ser algo mais racional, lógico e próximo da matemática, pois até então não havia uma forma única de representar a maneira como as músicas deveriam ser principalmente cantadas. Na forma rígida do canto gregoriano os símbolos em geral representavam apenas indicações de subida e descida imprecisas na linha melódica (os neumas) que deveria ser previamente conhecida. Desenvolveu-se então aí a pauta musical e os signos de notação, que embora criados por Guido d'Arezzo no séc. XI, ainda era usada de maneira tímida e de forma primitiva, porém ainda haveria um longo caminho até um consenso e uma unificação em torno de uma escrita como a conhecemos hoje.

Sistema de canto usando os neumas

Outra inovação deste período foi o contraponto. Até então as melodias eram cantadas em uníssono (mesmo tom) ou em oitavas de acordo com os tipos de vozes. Já havia algum tempo que uma segunda linha melódica (vox organalis) estava sendo colocada no canto gregoriano, mas na Ars Nova este sistema de notas diferentes sendo colocadas em "oposição" foi estudado e entendido, sendo chamado de ponto contra ponto (nota contra nota) onde duas ou mais linhas melódicas corriam juntas mas em harmonia. O nome foi sendo abreviado até ser reduzido a contraponto.

Um madrigal anônimo com o novo sistema de notação

A quebra da hegemonia da música sacra acarretou também a abertura para os ritmos binários, que eram considerados profanos, pois só os ritmos ternários estavam associados a trindade cristã, isto abriu caminho para novas formas musicais e ritmos inovadores para a época. Criou-se um sistema de contagem separado para os dois ritmos, o perfeito era ternário e o imperfeito era binário e os andamentos eram divididos em rápido, moderado e lento.


Todas estas inovações acabaram afetando a forma de se fazer música dentro das igrejas ao ponto de o papa João XXII , em 1322, lançar uma bula proibindo os excessos que estavam descaracterizando o culto tradicional, mas isto não impediu que estas novas ideias fossem sendo vagarosamente aplicadas dentro do andamento musical das missas.

Papa João XXII

O apogeu da Ars Nova chegou a um grau de detalhamento e complexidade que acabou recebendo uma denominação própria entre os musicólogos modernos, a Ars Subtilior, que tinha sistemas de composição e notação bastante complexos e até mesmo formas de pautas estranhas para a nossa época, como o círculo, a espiral e até mesmo o coração.

Partitura em forma de coração - Belle, bonne, sage, de Baude Cordier

Alguns compositores que se destacaram nesta época foram Francesco Landini, Gillaume de Marchaut, Jehannot de Lescurel, Johannes Ciconia, Pierre des Molins e Phillipe de Vitry que escreveu um tratado sobre a Ars Nova.

Página do tratado e imagem de Phillipe de Vitry

Estas características fazem deste período (Ars Antiqua e Ars Nova) a fase de transição da música medieval para a música renascentista. Com o advento do período renascentista a Ars Nova acabou ficando no esquecimento, mas no séc. XVIII o movimento romântico tentou resgatar estas composições e se deparou com um grande problema, toda esta efervescência de ideias gerou uma falta de unidade nos manuscritos da época e muito do que se tem da Ars Nova é de difícil interpretação até os dias de hoje.

Leia sobre a Ars Antiqua >AQUI< e sobre a Ars Subtilior >AQUI<.

No vídeo um moteto a três vozes de Phillipe de Vitry chamado In arboris, aproximadamente do ano 1320.


segunda-feira, 22 de abril de 2019

DICIONÁRIO MUSICAL - ÁRSIS


Do grego (arsis = elevação) se referindo na teoria musical ao tempo fraco de um compasso.

Esse é um termo da música primitiva relacionado ao movimento do regente que antes da batuta usava um bastão longo na vertical, batendo a ponta inferior no chão para marcar o tempo forte, essa batida para baixo era chamada thesis e o movimento oposto, em elevação, era chamado arsis. Posteriormente o bastão se tornou um elemento mais visual, sem ser batido, depois foi diminuindo de tamanho até se transformar em uma pequena varinha, e hoje alguns regentes nem mesmo usam batutas.

Mais raramente se usa o termo para designar a elevação do tom. Também pode ser chamado de ARSE.

No vídeo um trecho do filme Todas as manhãs do mundo, onde Gérard Depardieu interpreta um regente usando um bastão.



DICIONÁRIO MUSICAL - ARSE


O mesmo que ÁRSIS.

Veja o verbete ÁRSIS >AQUI<

DICIONÁRIO MUSICAL - ARS ANTIQUA


Ou Ars Vetus (Arte Antiga).

Foi um período da música polifônica ocidental que vai do século IX até o XIII. Caracterizado pelos modi (células rítmicas) e ritmos ternários. As formas praticadas são o organum simples ou complexo, o motete profano, o conduit polifônico (de inspiração religiosa) e o rondó profano.

Mais comum entre os compositores da chamada Escola de Notre-Dame na cidade de Paris sendo os mais conhecidos Léonin e Pérotin dos quais não se sabe quase nada além de sua obra musical. Foi nesse período que se iniciou a polifonia no centro sul da Europa com o uso de duas ou mais vozes com melodias diferentes, contrastando com a monofonia onde se cantava apenas uma linha melódia em uníssono ou em oitavas, típica dos trovadores medievais. As composições eram prioritariamente religiosas embora houvesse também música profana. Esta escola teve grande influência na música européia posterior.

Uma partitura da obra Alleluia Nativitas do compositor Pérotin

Os modi (células rítmicas) propunham a aplicação dos pés métricos literários na música, alternando sons longos e breves divididos por acentos, chamados têmporas e tempos. Isto auxiliava as vozes que cantavam juntas pois o ritmo era mais preciso.

A Ars Antiqua foi sucedida pela Ars Nova que já passou a dar importância à música profana, retomando a monofonia e a improvisação. Até então não existia um nome para este período, foi quando o bispo e compositor Phillipe de Vitry fez o seu Tratado da Ars Nova criando e nomeando a arte anterior como sendo a Ars Antiqua (1324).

Leia sobre a Ars Nova >AQUI<

No vídeo o Viderunt Omnes de Pérotin cantado pelo grupo Ping Voices (2014).