Quando uma
obra musical precisa se enquadrar em uma nova necessidade, devido a versão
original apresentar carências, excessos ou um caráter diferente do que é
pretendido ou suportado para sua nova execução, se faz uma adaptação.
Uma carência
pode ser, por exemplo, de vozes, quando se adapta uma música que originalmente
era cantada por um cantor e se faz uma adaptação para coro. No vídeo o Coral Unicamp Ziper na Boca canta Yesterday dos Beatles;
Um exemplo
de excesso é quando um instrumentista faz uma redução da quantidade de
instrumentos para executar um obra em apenas um instrumento. No vídeo a Ária na Corda Sol de J. S. Bach, adaptada para violão pelo violonista Paulinho Nogueira;
Quanto à
adaptação para um novo caráter, um exemplo pode ser uma obra executada
originalmente para estúdio ou shows e que será executada em um teatro ou em um musical para o cinema. No vídeo a música Dancing Queen do ABBA no musical Mamma Mia para o cinema;
Quando uma música
é executada com condições parecidas a original, mesmo que se dê uma nova
roupagem devido às características particulares dos novos executantes é comum
que isso seja chamado de releitura ou cover,
que é algo diferente.
Desde sua aparição em 2008 com seu videoclipe
Poker Face, Lady Gaga tem atraído a
atenção da mídia e público por causa de suas temáticas polêmicas, primeiramente
pelo seu visual andrógino e sempre extravagante, pelos assuntos tratados em sua
música e também por alguns assuntos relativos a sua vida pessoal. Dentre as diversas
lendas sobre ela a principal é sobre seu verdadeiro gênero, pois muitos afirmam
categoricamente que Lady Gaga é um homem.
Tudo começou em 2009 quando o site Female
First postou um vídeo com um trecho do show
em Glastonbury onde Gaga sai de cima de uma scooter
e acaba com o vestido alto, mostrando algo a mais do que o esperado para uma
mocinha, isso, aliado ao seu estilo andrógino despertou uma legião de
conspiracionistas que foram atrás de mais provas de que Gaga era na verdade um
travesti e que as roupas exageradas eram para esconder seus traços masculinos.
O estilo de Lady Gaga rendeu outra polêmica
no mesmo ano. A cantora Christina Aguilera foi acusada pelos fãs de Gaga de
estar copiando o look dela, ao que
Aguilera respondeu:
“Essa
pessoa foi trazida a minha atenção há pouco tempo. Eu não tenho muita certeza
quem essa pessoa é, pra ser honesta, eu não sei se é um homem ou uma mulher”
Nos meses seguintes muitas fotos com
evidências começaram a aparecer e se juntar ao vídeo e aos testemunhos de
pessoas que diziam saber que Gaga não era uma mulher, até mesmo um site foi
criado especificamente para reunir essas evidências (LadyGagaIsAMan). Já em 2011 em
entrevista para a revista Vanity Fair, falando sobre relacionamentos com outros
artistas, ela deu essa declaração que para muitos foi como uma verdadeira confissão:
“Vira
uma competição para ver quem tem o pênis maior. Se eu for para o piano e
escrever uma música rapidamente, ele vai ficar nervoso por causa da minha
facilidade para compor. Mas é quem eu sou, e não peço desculpas por isso”
Quando o assunto começou perder força surgiu
paralelamente outro, o de que na verdade ela seria um hermafrodita, um
indivíduo que apresenta características dos dois sexos ao mesmo tempo (os
médicos preferem chamar essas pessoas de intersex) o que parecia ser mais
verdadeiro, pois com o tempo o passado de Lady Gaga começou a ser conhecido e ficou
claro que ela cresceu como uma menina, o que é muito comum para os intersex. O
mesmo site que havia publicado o primeiro vídeo também publicou uma declaração
de Gaga sobre o assunto para a revista HeatWorld:
“Sim,
eu tenho um órgão sexual masculino e um feminino, mas me considero uma mulher.
É só um pouco de pênis que não interfere em nada em minha vida. Eu sou sexy e
gostosa”
A prova final para os defensores da teoria
foi o surgimento de um novo personagem na história. Trata-se de Jo Calderone, um
jovem magro, de cabelos curtos e nada feminino. Ele apareceu como o homem da
capa da revista Vogue Japão de setembro de 2010 e foi apresentado como o alter ego de Lady Gaga. Alter ego é um
termo usado em psicologia e vem do latim, alter
= outro e egus = eu, desta maneira
acabou ficando claro que a cantora tinha realmente um lado masculino e outro
feminino.
Será?
Uma coisa fica bem clara nessa história toda,
quando surge uma polêmica ligada à Lady Gaga, imediatamente ela aparece na
mídia e sua fama aumenta. O visual andrógino se encaixa perfeitamente na ânsia
de auto identificação atual, estamos em meio a uma revolução nos conceitos de
relacionamentos afetivos entre gêneros, ser andrógeno é ao mesmo tempo curioso e
popular, e o marketing de Gaga é exatamente este.
Não se sabe o que o site Female First
pretendia ao criar a polêmica, mas parece que só fez bem para a popularidade de
Gaga. O vídeo na verdade foi postado com uma baixa qualidade, de modo que não
se pode ter certeza do que é o tal “volume” sob o vestido da cantora, mas as
imagens originais têm uma qualidade bem melhor permitindo que quem quiser faça por
si só uma avaliação própria.
Quanto ao figurino de Gaga, ninguém consegue
me convencer de que seja para esconder qualquer coisa, pelo contrário, se ela
tivesse que esconder algo seria a forma perfeita de álibi – “como eu posso ser
um homem com essas roupas que estou usando?”. Criar a dúvida pode não ter sido
a ideia inicial, mas para mim ela surgiu naturalmente na grande maioria das
pessoas e os produtores da cantora viram aí uma ótima oportunidade de negócios.
Christina Aguilera acabou botando mais lenha na fogueira.
O site criado com uma coleção de fotos com as
“provas” pode ter sido criado até mesmo pelos próprios agentes de Lady Gaga,
assim como o vídeo editado em baixa qualidade e também os depoimentos que nunca
foram provados serem da cantora. Quanto à entrevista para a revista Vanity
Fair, não é preciso ser um especialista em interpretação de texto para ver que
a expressão “ver quem tem o pênis maior”
significa “brigar por algo sem sentido”.
As fotos não revelam nada, mas com certeza
deixam dúvidas, porém nada além disso. Da mesma forma o assunto sobre
hermafroditismo surgiu como algo mais plausível para os conspiracionistas, afinal
ela tem um passado, uma família, registros antes da fama e nada parecia apoiar
uma identidade masculina anterior.
Seu nome verdadeiro é Stefani Joanne Angelina
Germanotta, nascida em Nova Iorque em 1986 em uma família de classe média alta
e estudou em um colégio católico. O nome artístico surgiu a partir da canção Radio Gaga do Queen, que ela cantava
constantemente, foi o parceiro compositor e produtor Rob Fusari quem lhe deu o
nome artístico.
Quanto ao alter
ego, Jo Calderone, fica difícil não vê-lo como mais uma cartada de
marketing, a bola estava quicando na frente da área, sem goleiro, mais um gol
de Lady Gaga. Desde a adolescência ela se dedicou ao teatro, fazendo várias
peças e pequenas aparições como na série de TV Os Sopranos em 2001, então ela
desenvolveu um personagem para isso, tirou as fotos para a revista Vogue do
Japão e também fez aparições ao vivo como Jo Calderone.
O que se conclui disso? Lady Gaga é uma
mulher? Mister Gaga é um homem? Shemale Gaga é ambos?
Ela já teve que falar sobre o assunto, é
claro, diversas vezes, e sempre negou tudo. A apresentadora Barbara Walters da
ABCNews lhe perguntou diretamente isso em 2009:
Walters – “Você sabe, há também esse estranho rumor de que você é parte homem,
parte mulher. Você já ouviu esse boato, Gaga?“
Sabe aquelas frases
polêmicas, engraçadas, geniais ou até mesmo estúpidas ditas por celebridades da
música?
JIMMY LONDON
(vocalista do Matanza)
“A
gente queria chamar a banda de Bonanza, mas a gente achou que ia ficar muito
viadinho. Então a gente resolveu chamar de Matanza”
“Ainda
estou ouvindo as músicas dos anos 30, falta muito para chegar em 2010” (sua justificativa ao
se negar a dar uma opinião sobre as bandas emo)
“Antes
da banda, eu trabalhei de terno e gravata. Era gerente de marketing de uma
empresa importante e falava um monte de bobagem, mas nunca tive a menor dúvida
do que eu queria fazer da minha vida, tanto que eu larguei tudo sem olhar pra
trás”
“Countrycore
é, de certa maneira, algo abstrato. Não está no tema das letras, mas no nosso
tipo de levada”
“É
absolutamente tudo mentira” (falando sobre o estilo de vida nas letras do
Matanza)
“Estou
cagando para os meus fãs, sou músico, não sou modelo de vida” (falando sobre o que
os fãs pensam sobre ele parar de beber)
“Eu
acho o calor uma merda. Odeio calor. Quero mandar o calor para puta que o
pariu”
“Eu
não sou adepto da viadagem de colecionar vinil. Eu não coleciono porra nenhuma”
“Fiquei
de saco cheio de birita, porque se tornou algo muito repetitivo para mim. Não
tive que me esforçar para parar de beber, pelo contrário, teria que me esforçar
para continuar a beber. Um dia eu disse que não tava a fim e pronto. Pode ser
que passe uma hora, mas por enquanto isso ‘tá durando”
“Gosto
de ver as pessoas bêbadas. Gosto que bebam e que fiquem muito doidas, porque eu
rio pra caralho”
“Já
cansei de falar para as pessoas não me levarem a sério, quem me leva a sério
está muito errado”
“Não,
porque ele é um gênio e eu não sou, e também porque ele é feio pra caralho e eu
sou só um pouquinho feio. Então não me acho parecido com ele de jeito nenhum” (sobre o Lemmy do
Motorhead)
“O
rock é feito para as pessoas ‘rocarem’, se divertirem, e para isso não precisa
beber, nem brigar”
“Pra
mim não existe rock educado. Então não sei se a gente é banda de rock de macho
ou se as outras bandas que estão tentando fazer uma coisa que não existe”
“Quanto
mais esquisito o lugar, melhor o show”
“Se
algum dia alguém fez algum som, foi pra comer alguém. E fique dito”
“Se
eu tivesse só um disco, já teria mais discos que amigos”
“Tem
muita mina aí com atitude de mais macho que muito marmanjo”
“Tenho
espelho em casa e tenho noção do que eu sou”
“Vou
ficar ridículo lá, velhinho, cantando, mas vou estar lá, velhinho, mas
amarradão fazendo o que eu gosto. Não sei, e não quero fazer outra coisa na
minha vida”